Forças de interação entre o pé e o solo na corrida: o que isso diz sobre o desempenho

Postado em: 16/06/2025

As forças de interação entre o pé e o solo estão presentes em cada passo durante a corrida, mesmo que a gente nem perceba. Elas influenciam não só o desempenho, mas também o impacto sobre articulações, músculos e ossos, e podem ser a chave para entender o que está por trás de uma boa técnica de corrida ou de uma lesão recorrente.

Vamos explorar como essas forças funcionam, como variam de acordo com o tipo de pisada e por que fazem tanta diferença na prevenção de lesões e na eficiência da corrida. 

É um conteúdo essencial para quem corre ou quer correr com mais consciência do próprio corpo.

O que acontece quando o calcanhar toca o chão?

Forças de Interação Entre o Pé e o Solo Durante a Corrida
Forças de interação entre o pé e o solo na corrida: o que isso diz sobre o desempenho 2

Em corredores que aterrissam com o calcanhar, que é o padrão mais comum, as forças de interação entre o pé e o solo seguem uma curva específica ao longo do tempo. Assim que o calcanhar toca o chão, ocorre um pico rápido de força, que pode atingir o dobro do peso corporal.

Esse pico é seguido por um vale, que representa a fase de apoio total do pé (também chamada de aplainamento). Depois disso, há um segundo aumento de força, correspondente à fase de propulsão, que pode alcançar até três vezes o peso corporal.

Essas variações acontecem em frações de segundo e mostram como o corpo absorve e gera energia a cada passada.

Como a velocidade da corrida altera o tempo de contato?

Um fator que modifica bastante as forças de interação entre o pé e o solo. Quanto mais rápido se corre, menor é o tempo de contato do pé com o solo. Em um sprint, esse tempo pode ser tão curto quanto 0,1 segundo.

Essa redução no tempo de contato significa que a força precisa ser absorvida e gerada muito rapidamente, o que exige mais do sistema musculoesquelético e da técnica do corredor.

Entendendo as fases da curva de força vertical

A curva de força vertical é uma forma de ilustrar como as forças de interação entre o pé e o solo se comportam ao longo do tempo. Elas podem ser divididas em três momentos principais:

Pico inicial

É o impacto logo após o calcanhar tocar o chão. É rápido e representa o maior risco de sobrecarga para articulações e músculos.

Vale

O momento em que o pé está completamente apoiado no solo. O peso do corpo está distribuído e a força diminui temporariamente.

Segundo pico

A força volta a subir quando o pé empurra o chão para gerar movimento. Essa é a fase de propulsão, que impulsiona o corpo para frente.

Essa curva muda conforme o tipo de pisada e o estilo de corrida. E entender essas variações pode ser o ponto de partida para melhorar o desempenho ou prevenir lesões.

Diferença entre pisada com calcanhar e com antepé

Quem corre com o antepé, ou seja, com a parte da frente do pé tocando o chão primeiro, apresenta uma curva de forças de interação entre o pé e o solo ligeiramente diferentes. Nesses casos, o gráfico não mostra o pico inicial nem o vale característicos da pisada com calcanhar.

A aterrissagem com o antepé tende a gerar uma absorção mais suave da força, o que pode diminuir o impacto em algumas estruturas do corpo. E também está associada a início da aterrissagem mais próxima do centro de massa do corpo. Porém, ela também exige maior força dos músculos da panturrilha, por exemplo.

Além da força vertical: conheça a força ântero-posterior

As forças de interação entre o pé e o solo não se limitam à direção vertical. Existe também uma força no sentido horizontal, chamada de força ântero-posterior.

Ela também apresenta duas fases:

  • Primeira: força no sentido posterior, que age como um “freio” no corpo logo após o pé tocar o chão.
  • Segunda: força no sentido anterior, que representa a propulsão — a fase em que o pé empurra o chão para gerar deslocamento.

Essa alternância é essencial para manter o equilíbrio e a eficiência do movimento.

Por que reduzir o impacto importa tanto?

Diminuir o impacto é uma das principais estratégias para evitar lesões na corrida. A área sob a curva de força vertical, especialmente na primeira metade (logo após o impacto), está diretamente relacionada à quantidade de estresse que o corpo sofre.

Quanto menor essa área, menor é a carga que precisa ser absorvida pelas articulações, músculos e ossos. Por isso, estratégias que buscam atenuar o impacto, como ajustes na técnica ou escolha de calçados adequados, são tão valorizadas.

Relação entre impacto e eficiência

Corredores mais eficientes tendem a gerar menos impacto, mesmo correndo em velocidades mais altas. Isso porque uma boa técnica ajuda a distribuir melhor as forças, evitar desperdícios de energia e reduzir a sobrecarga em pontos críticos do corpo.

Esse padrão pode ser observado em atletas de elite e também pode ser treinado e desenvolvido por corredores amadores, com ajuda de profissionais especializados.

Como essa análise ajuda no tratamento de lesões?

Em casos de lesões recorrentes ou de difícil resolução, a análise das forças de interação entre o pé e o solo pode trazer informações valiosas. Observar como o corpo distribui e absorve forças pode revelar padrões que estão contribuindo para o problema.

Com base nisso, é possível adotar intervenções específicas:

  • Ajustes na técnica de corrida
  • Mudança no tipo de pisada
  • Alterações no calçado
  • Inclusão de exercícios para fortalecimento muscular

Essas mudanças, feitas de forma orientada, ajudam não só na recuperação como na prevenção de novas lesões.

Mais do que passos, são forças que moldam sua corrida

A corrida é um movimento repetitivo, mas está longe de ser simples. A forma como o pé interage com o solo diz muito sobre sua performance, sua técnica e sua saúde articular.

Entender as forças de interação entre o pé e o solo é fundamental para quem quer correr bem, com segurança e sem dores. É esse olhar biomecânico que permite ajustes finos capazes de fazer toda a diferença, seja no desempenho ou na prevenção de lesões.

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Dr. Iberê Datti

Ortopedista de Joelho

CRM: 161.636

RQE: 85460


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