TRATAMENTO DAS LESÕES DE CARTILAGEM
A cartilagem articular é um tecido bastante liso que reveste a parte articular dos ossos do joelho. Cartilagens saudáveis permitem um movimento entre as estruturas com o mínimo atrito entre elas.
As lesões da cartilagem articular podem acontecer por traumas ou desgasta associado a processos degenerativos e envelhecimento. Como a cartilagem articular é uma estrutura com baixo poder de regeneração, algumas vezes intervenções cirúrgicas são necessárias para tratar lesões sintomáticas.
Restaurar a cartilagem articular o máximo possível pode melhorar a dor, a função e, o mais importante, pode postergar o aparecimento da osteoartrite de joelho.
Atualmente existem diversas alternativas para tratamento das lesões de cartilagem (nem todas disponíveis no Brasil), e conforme estudamos e entendemos melhor os processos de regeneração da cartilagem desenvolvemos novas técnicas de tratamento para esse problema.
Cartilagem Hialina
A principal estrutura da superfície articular é a cartilagem hialina. Quando ela está lesionada a superfície articular perde a característica de deslizamento com mínimo atrito e sobrecarrega o osso subcondral (osso que fica imediatamente adjacente a cartilagem) o que causa dor e favorece o desenvolvimento do processo de osteoartrite de joelho.
O objetivo do tratamento das lesões de cartilagem é restaurar a cartilagem hialina normal na superfície articular.
Identificando a Lesão de Cartilagem
Muitos pacientes com lesão de menisco ou de ligamento possuem também lesão de cartilagem. As lesões de cartilagem nem sempre são facilmente identificáveis, pois elas não são vistas nas radiografias.
O melhor exame de imagem para caracterizar uma lesão de cartilagem é a ressonância magnética. Ainda assim, a definição final do tamanho e padrão da lesão de cartilagem só pode ser feita após artroscopia.
Para tratar corretamente as lesões de cartilagem é importante tratar todas as alterações que encontramos, lesão ligamentar, lesão meniscal, alteração do eixo mecânico da perna.
Elegibilidade dos Pacientes para Tratamento das Lesões de Cartilagem
O tratamento das lesões de cartilagem só é bem indicado em pacientes que ainda não tenham desenvolvido processo articular degenerativo (osteoartrite) e nos quais seja possível tratar todas as alterações associadas.
Dessa forma, pacientes mais velhos, que já tenham iniciado um quadro de osteoartrite, ou com meniscectomias amplas provavelmente não são bons candidatos a procedimentos de tratamento cirúrgico para lesão de cartilagem.
Tratamentos Cirúrgicos para as Lesões da Cartilagem Articular
A maioria dos procedimentos cirúrgicos para tratamento das lesões de cartilagem pode ser feita por artroscopia o técnica híbrida (artroscopia + cirurgia aberta). Entretanto, às vezes é preciso abrir vias extensas para tratar a lesão de cartilagem ou alterações associadas.
De modo geral, a recuperação pós-operatória de procedimentos artroscópicos é mais rápida e menos dolorosa do que de cirurgias abertas.
As principais opções de tratamento para as lesões de cartilagem são:
- Desbridamento/Shaving
- Microfratura/Microperfuração/Nanoperfuração
- Implante Autólogo de Condrócitos (ACI/MACI)
- Transplante Osteocondral Autólogo (OATS/mosaicoplastia)
- Transplante Osteocondral a Fresco
- Membrana de Colágeno Tridimensional
Desbridamento/Shaving
Desbridamento ou shaving da lesão de cartilagem é o procedimento mais simples e com menor potencial de recuperar a cartilagem. Ele consiste apenas na retirada de partes instáveis da lesão de cartilagem.
Microfratura/Microperfuração/Nanoperfuração
Microfratura, microperfuração e nanoperfuração são todas técnicas discretamente diferentes, mas com um mesmo objetivo: estimular o sangramento do osso subcondral.
Tratam-se de técnicas também simples e de fácil execução. Porém esses tratamentos só são indicados em lesões condrais pequenas e o bom resultado inicial não se sustenta no médio e longo prazo, e o paciente volta a ter sintomas.
Além disso, esses tratamentos têm o risco de evoluir com formação de osteófito intralesional (osso no local que deveria crescer cartilagem nova) o que piora o quadro do paciente
Transplante Autólogo de Condrócitos (ACI/MACI)
O transplante autólogo de condrócitos é um procedimento em dois tempos para o tratamento das lesões de cartilagem.
Na primeira cirurgia fragmentos de cartilagem são retirados do joelho do paciente e enviados para um laboratório.
No laboratório esses procedimentos são processados e as células da cartilagem (condrócitos) são cultivadas em condições ótimas por algumas semanas.
No segundo tempo de cirurgia essas células cultivadas do próprio paciente são reimplantadas no local da lesão de cartilagem.
Esse procedimento é indicado principalmente nas lesões de cartilagem grandes. Suas desvantagens são a necessidade de duas cirurgias e o tempo para a maturação da cartilagem nova.
Transplante Osteocondral Autólogo / Mosaicoplastia (OATS)
O transplante osteocondral autólogo (OATS), também conhecido por mosaicoplastia, consiste em retirar um pedaço de cartilagem bom de uma região de pouca demanda (que não recebe carga) e colocar no local da lesão sintomática.
Os resultados desse procedimento são muito bons, mas lesões de cartilagem grandes não podem ser tratadas com essa técnica por falta de área doadora.
Transplante Osteocondral à Fresco
Lesões de cartilagem muito grande, que não podem ser tratadas pela técnica do transplante osteocondral autólogo, muitas vezes são candidatas ao tratamento com o transplante osteocondral à fresco. Nessa técnica um fragmento de cartilagem e osso é transplantado de um doador para o joelho do paciente, de forma semelhante ao que ocorre com o transplante de outros órgãos.
Tratamento com Células Tronco e Biotecnologia
Atualmente estão sendo estudadas técnicas de tratamento de lesão de cartilagem usando aplicação local de célula tronco mesenquimal associada a membranas de colágeno ou uso de membranas tridimensionais especificamente desenvolvidas para o tratamento das lesões de cartilagem.
Os resultados, a princípio, são promissores e são estratégias que muitas vezes já podemos adotar.
Reabilitação
Depois da cirurgia é preciso tomar cuidado com o seu joelho até ter certeza que a cartilagem já está cicatrizada e madura. Por isso, algumas vezes é preciso restringir descarga de peso na perna operada. Você vai precisar de muletas nas primeiras semanas após a cirurgia.
A fisioterapia deve ser iniciada o mais cedo possível e nas primeiras semanas pode ser que você precise usar um aparelho de movimentação passiva contínua (CPM – “continuous passive motion”).
Conforme o tratamento vai progredindo, você vai sendo autorizado a aumentar a demanda do joelho. Algumas técnicas de tratamento permitem o retorno as atividades sem restrições em cerca de 4 meses, outras podem precisar de pouco mais de 1 ano para liberação médica.
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